O avanço da tecnologia no campo tem contado com inúmeras ferramentas para redução dos custos de produção e maior sustentabilidade na produção agrícola.
Desde outubro, duas dessas soluções estão sendo usadas em conjunto no cinturão verde da cidade de São Paulo, onde é produzido a maior parte das frutas, verduras e legumes consumidas pela maior capital do país: drones e defensivos microbiológicos.
A iniciativa é resultado da parceria entre duas empresas, uma especializada em pulverização agrícola por drones e outra no desenvolvimento de defensivos microbiológicos.
O sistema já vinha sendo usado para pulverizar produtos macrobiológicos sólidos, como predadores e parasitas naturais, mas ainda esbarrava no elevado volume de calda necessário para a aplicação de organismos microbiológicos, como fungos, vírus e bactérias.
Enquanto os aplicadores manuais possuem tanques de armazenamento de até 20 litros, a capacidade máxima de drones de pequeno porte varia de cinco a 10 litros de água, metade do usado habitualmente no setor.
Com isso, pesquisadores da VOA, empresa de tecnologia baseada em drones e dados sediada em São José dos Campos (SP), e da fabricante holandesa de biodefensivos Koppert, sediada em Piracicaba (SP), realizaram sucessivos testes até encontrar uma forma de reduzir o volume de calda necessário para diluição de dois microbiológicos: o inseticida Boveril (Beauveria bassiana) e o fungicida Trichodermil (Trichoderma harzianum), também usado como nematicida.
“A gente foi aumentando a concentração do produto, reduzindo o volume de calda, e analisando as características de pulverização – tamanho de gota, concentração das gotas, largura das faixas. Após essa é primeira análise técnica, reduzindo muito o volume de calda, passamos a estudar como é que a nuvem de pulverização se comportava”, conta Nei Brasil, CEO da VOA.
Os testes com a aplicação dos dois produtos estão sendo feitos desde outubro em lavouras de couve-manteiga e repolho e levaram a uma redução expressiva no uso de água necessário para a pulverização: de 800 litros para 30 litros por hectare.
“Tipicamente, quando vemos o aplicador manual, o produtor tende a aplicar até encharcar as folhas, e é isso que está sendo racionalizado. Como o drone é muito preciso, a gente tem que racionalizar muito o uso da água e do produto – e isso é algo que reduz muito o custo”, explica Brasil.
Além do menor consumo hídrico, a pulverização dos defensivos microbiológicos por drone também tem apresentado maior rapidez, chegando a 3 hectares por hora por aplicador ante 0,24 hectare por hora na aplicação convencional, e reduzido os danos provocados pelo trânsito entre as linhas da lavoura.
“Essa redução no dano físico na cultura é fundamental tanto do ponto de vista técnico quanto sanitário, porque essas fissuras que o homem promove andando e pisando na lavoura é uma porta de entrada para doenças”, destaca Rodrigo Rodrigues, gerente de vendas da Koppert do Brasil.
Segundo ele, a tecnologia deve estar pronta para ser lançada comercialmente a partir do início do próximo ano, quando estiverem concluídos os testes de validação da pesquisa.